domingo, 17 de janeiro de 2010

O DISCO VOADOR

Acordei naquela noite com uma puta dor de cabeça.
Ninguém em casa. Eram umas sete horas.
Peguei o carro e sai sem destino.
Numa estradinha estreita, fui em frente tentando achar um ponto de retorno, mas só via mato, de um lado e do outro.
Achei outra estradinha que cortava transversalmente a que eu estava, virei, mas, ao invés de estar voltando pra cidade estava me aprofundando mais ainda ali.
Pensei estar perdido, minha cabeça tava meio zonza e fiquei tentando achar o caminho de volta. Foi quando eu vi.
Numa clareira, não natural mas causada pela queda do objeto, estava um disco voador.
Juro, tava lá. Inteirinho, tinha até umas luzinhas ainda acesas.
Queria ir ver de perto, mas tinha medo. Não sabia o que fazer.
Tinha tipo um tampão ou escotilha em cima que estava aberta, e uma tênue luz verde emanava de lá.
Mas só. Parecia abandonado.
Sai do carro, mas fiquei com medo de chegar muito perto.
“E se essa porra é radioativa?”
“Mas, e se tem tripulante machucado lá?”
“E se tiver um monstro lá dentro só me esperando?”
O que fazer?
Ele era pequeno, no formato de um disco, do tamanho da minha sala mais ou menos, porém inspirava medo, curiosidade, solidariedade caso houvesse um alienígena ferido, e sei lá quantas mais sensações.
Tinha uma máquina digital com a qual poderia ter tirado um monte de fotos, mas não a havia trazido.
Quem iria acreditar nisso?
Pensei em minhas opções. Não eram muitas:
Fugir dali e esquecer que alguém ferido fora deixado para trás.
O que acarretaria na admissão pura e simples de que eu era um covarde.

Fugir dali, esquecer do alguém e contar a história para meus amigos.
E como resultado me chamariam de louco, chapado, e alucinado.

Voltar com um amigo pra mostrar que era verdade e ficar famoso.
O que faria com que a aeronáutica sumisse com tudo inclusive com o possível tripulante. Diriam que foi um balão visto por um simples homem neurótico.

Contar para minha irmã, uma delas, que eu amo de paixão e ver ela olhar pra mim com dó, medir minha temperatura e me por pra dormir.

Só me sobrava uma: Ir lá e ver se havia alguém dentro, e ajudar se possível.

Cheguei devagar..... “foda-se se tiver radiação, pensei” Eu estava do lado da fuselagem, lentamente aproximei minha mão (aquilo podia estar fervendo ou me derreter) encostei um dedo. Frio. Ufa!
Encostei a mão e apesar de ter uma consistência estranha, parecia só metal.
Agora era subir pra parte de cima, rumo a escotilha.
Os faróis do meu caro iluminavam como podiam mas davam uma aura mais misteriosa sobre aquele disco prateado.
Pensei uns instantes, parei de pensar e subi de uma vez.
Tentei pensar, desisti e coloquei a cara pela escotilha, recebendo nos olhos aquela luz tão verde.
Não tinha muita coisa lá dentro. Não sei como essas coisas conseguem voar,
mas tinha alguém, e seus olhos pediam ajuda.
Não era nada igual aos et´s que a gente vê em filmes. Ao contrário, parecia muito um humano, só que bem menor, magra e com uma roupa colada ao corpo mas que parecia (e era) metálica (dava a impressão de ser mulher).
E agora? Pensei.
Idiotamente disse Olá e perguntei se precisava de algo.
Ela apenas continuou me olhando.
Sua boca abria como se quisesse falar, mas dela não saia som algum.
Olhando melhor, percebi que devia mesmo ser uma mulher. Não sei porque, pelos olhos, pelo contorno da boca e porque era bonita. Mas vai saber né?
Olhei a roupa colada vendo se descobria alguma “mala” entre as pernas, mas não. Tudo lisinho. Porém.... vai saber...
Brincando disse: E ai? Vamos jogar tênis?
Inconcebivelmente, porque nunca esperaria isso, ela sorriu. Um sorriso triste. E disse:
-Me ajuda.
Não disse com palavras, mas sua voz ecoou na minha cabeça forte, e era uma voz feminina.
-Ajudo, respondi. O que eu tenho que fazer?
Ela não respondia na hora, não sei se porque estava machucada ou porque tinha que traduzir em algum dicionário cósmico o que eu dizia.
- Entra aqui dentro. (Palavras ecoadas em minha mente.)
Sei não, pensei. Se essa escotilha fecha eu fico trancado aqui.
-Não vai fechar, respondeu ela lendo meus pensamentos e falando dentro da minha cabeça. Mas vem logo. Não tenho muito tempo.

Sem alternativa honrosa, desajeitadamente entrei no disco.
Ele tinha muitos painéis, tinha armários embutidos, tinha uns controles como vídeo-game, tinha uma mesa central em provavelmente cristal com desenhos de mapas.
Sem prestar muita atenção a isso fui a ela que estava num tipo de poltrona da espessura de uma folha de papel, e tinha algo como um cinto de segurança em forma de x sobre seu peito. Mas tudo delicado, tudo muito fino, tudo provavelmente muito leve apesar de forte.
-Você vê os quadrados coloridos ai na sua frente? Ela disse.
-Ah esses ! E já fui indo colocar as mãos.
-Não! Ainda não. Apenas perceba-os.
Eram 12 quadrados coloridos, cada um com meio palmo de tamanho, cores diferentes e na frente da poltrona mas abaixo de um painel brilhante e opaco.
Era como se fosse um painel de controle, e o painelzão opaco fosse uma TV gigante.
-Pronto, estou percebendo.
-Eu estou morrendo, mas se você os apertar na seqüência certa, posso sobreviver. Entende?
-Claro, respondi. É só dizer a seqüência.
Ela sorriu de novo aquele sorriso lindo e triste.
-Amigo, eu não posso sair daqui, esses cintos só vão abrir na seqüência correta do painel. Isso é uma garantia para que em caso de acidentes, se não tivermos condições de levar a nave de volta, ela se auto destrua. Ela e no caso, juntamente eu.
Isso para não haverem vestígios.
Essa colisão afastou a poltrona mais de 1 metro como pode ver, pois entortou o seu ponto de ajuste. Assim não posso tocar os quadrados. Só você pode.
-Ta, ta já entendi. Me passa a seqüência então!
-Desculpa amigo, ela é única para cada um. Só você pode saber. Só você pode fazer.

Nesse momento, meu mundo caiu.

Uma vida na minha mão, e eu não tinha a menor noção do que fazer.
Já nem percebia mais que estava dentro de um disco voador. Juro, era somente um lugar, duas pessoas, uma morrendo e eu com o poder de salvar.
-Como você se chama?
-Me chame de Z, é a última letra do seu alfabeto. Pode ser Z.
-Porque não A então.
-Porque, você vai saber um dia.
-Um dia? Tenho dias?
-Muitos, e o A já passou.
-Você é mulher.
-Sou. Mas aperta logo esses quadrados.
-E se eu errar? Tudo explode?
-Não amigo, respondeu sorrindo novamente, nada explode.É apenas um código. Pode tentar, pode errar, mas apenas tente.
-E se der tudo errado?
-Ai eu vou morrer, mas, você vai ter tempo de sair, pegar seu carro e sobreviver, não se preocupe.
-Quantos quadrados?
-Seis.
-Na seqüência?
-Sim
-Não vou conseguir. É matematicamente impossível.
-Apenas tente, se puder.

Cada quadrado colorido que eu tocava, ele se iluminava. Tentei, juro que tentei, mas não dava em nada.
Nenhuma seqüência fazia efeito, eu estava desesperado.
-Amigo, a seqüência vem do coração. Você está tentando, eu vejo, mas acho que não vai conseguir.
-Mas uma hora eu acerto!
-Fosse outro tempo, talvez.... hoje como em boa parte da sua vida, sua mente está enevoada, seu coração perdido. Você não pode me ajudar. O tempo corre, e eu tenho que ir.
-Ir pra onde? Porque diz essas coisas? (enquanto digitava seqüências de quadrados como louco.)
Sabia que o ir era morrer, estava desesperado literalmente, batia naqueles quadrados e nada.
Parei.
Rezei, disse: Deus, eu não sou nada, mas ela é. Me ajude a salvá-la e se minha vida for o preço, eu pago. Ela vale alguma coisa, eu não.
Ela leu meus pensamentos e vi seus olhos marejando lágrimas, coisa que nunca imaginaria num extraterrestre, mas ali, nem pensava nisso. Ela era um ser humano para mim.
-Chega amigo. Você já mostrou quem é!
Os quadrados se iluminaram como vivos numa seqüência, seis um atrás do outro e o cinto dela se abriu.
-Ei???? O que...
-Cale-se amigo. Palavras não servem nessa hora. Vem aqui.
Cheguei desconcertado perto dela, já desconectada do cinto, mas ainda visivelmente doente.
Ela me olhou, sorriu e abriu os braços.
Eu a abracei e no aperto do abraço ela disse:
-Você não poderia me curar, mas eu te curo. Agora.
Ela colocou a mão sobre minha testa e uma luz azul, azul bem clara me preencheu.
Eu via a luz sair pelas pontas de meus dedos, eu sentia que ela também transbordava pelos olhos, era incrível, era mágika. (é com K mesmo).
-O que é isso? Como pode ser isso?
Ela respondeu: É o que resta de mim aqui nesse Universo. Passo para você. Não perca isso. Te dou meu maior tesouro. Não perca.
Foi assim que ela morreu nos meus braços....
Z

Ollhei seu rosto lindo, imóvel. Não acrediava. Chacoalhei-a, apertei novas seqüência dos quadrados, mas nada.
Com certeza se minha mente não estivesse embotada e meu coração transbordado por tantas amarguras, a teria salvo.
Eu sabia disso.
E ela também.
Sai daquele disco chorando, olhava-o e para mim não passava mais que um monte de metal.
Quem estava dentro se fora, e de alguma forma, eu sabia que havia deixado perder.
Já passavam das 3 da manhã, peguei o carro e fui seguindo a trilha que estava mais perto, nem imagino como seus faróis ainda estavam ligados e como pegou.
Acabei voltando para casa, mas não conseguia parar de chorar.
Ela havia me curado, como dissera em suas últimas palavras.
Ela me curou do mal maior, da depressão que me consumia e me levava ao caos.
Nunca mais deixei minha mente se entupir de nada.
Abri meu coração para Deus, e tive a resposta tão bela do filho pródigo.

Z
Olho no céu para uma estrela e vejo você lá.
De volta de sua viagem espacial.

Z
Você escolheu como nome a última letra do meu alfabeto pois sabia que teria que começar um totalmente novo.

Z
Voltei na mata no dia seguinte e só havia a clareira causada pelo impacto. Mais nada.

Z
Obrigado por dar uma parte da sua vida para mim. Eu, tolamente pensava que a estava salvando, e na verdade era você quem me salvava.

Z
Que esse nosso Deus Maravilhoso cuide sempre de você.
Ah! Se precisar de uma mãozinha, bom, agora minha mente pensa rápido, agora meu coração está cheio do bem. Se precisar, acho que agora posso te ajudar.

Um beijo

3 comentários:

  1. Eu acredito no relato. Só quem já passou por algo do gênero pode dizer.

    Muita Paz!

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  2. Nossa...Nunca foi por acaso que ficava com "meus botões"pensando no quanto você escrevia bem. Este texto me fez viajar...por sensações e circunstâncias que um dia tive,e hoje,pouco restou. É bom saber que há quem resgate coisas assim. Abraço.

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  3. muito bom ed.... parabens!
    gostei bastante :D

    -Alfredo.

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