sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Estrangeiro

Estrangeiro.


Naquele tempo,
A guerra era crua, era fria.
Na estrada, 
Corpos e mais corpos caídos em batalha.
Como se viesse do nada,
À meu lado chegou você.
E juntos defendemos nosso ponto.
Sobrevivência.

Nem tinha ideia de quem você era,
Mas não havia tempo para pensar.
Lá em cima, o inimigo atirava em tudo o que transpusesse a estrada.
E do outro lado estavam os amigos.

Lembra?
Eu disse: -Vai! Eu te cubro daqui, Vai!
Você, não achando justo:
- Não. Te conheci hoje, mas se é para morrer, morreremos juntos.
Eu gritei novamente: - Vai! 
E te empurrei.
Você teve que ir.

Descarreguei minha munição sobre eles para que pudesse passar.
E passou.
Do outro lado você olhava para minha linha e não entendia.
Você pedia: VEM!
Mas não havia mais balas,
Não tinha como ir com segurança.

E o inimigo chegava pelos flancos.
Então eu arrisquei e fui,
Em zigue zague, com as balas riscando sobre mim,
Passei a estrada,
E você que nunca tinha sequer me visto antes olhava-me atônita.
Eu disse: -cheguei.

O sangue de duas balas pegas de raspão no meu ombro
Escorria sobre teu uniforme e rosto.
Mas não era nada frente a tua vida.

Perguntei:
- Você está bem?
Ai, eu lembro como se fosse hoje.
Você me olhou demoradamente e perguntou:
- Você é desse mundo?
Respondi:
- Sou estrangeiro.

Foi assim que tudo começou.

(Ed Bianco)

Nenhum comentário:

Postar um comentário