domingo, 18 de março de 2012

Estrangeiro.


Naquele  tempo,
A guerra era crua, era fria.
Na estrada, corpos e mais corpos caídos em batalha.
Do meu lado chegou vc.
Juntos defendemos nosso ponto.
Sobrevivência.
Nem tinha idéia de quem vc era.
Era uma mulher corajosa da resistência,
Era só o q percebia e sabia.
Mas não havia tempo para pensar.
Lá em cima, o inimigo atirava em tudo o q transpusesse a estrada.
E do outro lado estavam os amigos.
Lembra?
Eu disse: -Vai! Eu te cubro aqui, vai!
Você, não achando justo:
- Não. Te conheço hoje, mas morreremos juntos. Não vou te deixar aqui.
Eu gritei: - vai! 
Te empurrei.
Vc teve que ir.
Descarreguei minha munição sobre eles,
Para que pudesse passar.
E passou.
Do outro lado vc olhava prá minha linha e não entendia.
Vc pedia: VEM!
Não havia mais bala nenhuma para eu atirar,
Não tinha como ir com segurança,
E o inimigo chegava pelos flancos.
Então arrisquei e fui,
Em zigue-zague, com as balas inimigas riscando sobre mim,
Passei a estrada.
E vc que eu nunca tinha sequer  visto antes me olhou atônita.
Eu disse: -cheguei.
O sangue de uma bala pega de raspão no meu ombro escorria sobre tí.
Mas não era nada frente a tua vida.
Perguntei:
- Vc está bem?
Ai eu lembro como se fosse hoje,
Enquanto tuas roupas iam se tingindo de vermelho,
Vc me olhou demoradamente e perguntou:
- Vc é desse mundo?
Respondi:
- Sou estrangeiro.


Foi assim que tudo começou.


Ed Bianco

Um comentário: